Liderança: Arte e Ciência
O que faz uma pessoa aceitar e reconhecer a liderança de outra? A ciência, ao longo do tempo, busca explicar esse fenômeno, mais fortemente a partir do século 20, trazendo algumas contribuições que, certamente, levantam mais pontos de divergência que de convergência entre os pesquisadores. O que não há como negar é o fato de que a liderança existe e que se encontra em todas as instâncias do sistema social. Porém, liderar, assim como amar, é verbo e se manifesta na ação. Contudo, para ambos, a conceituação, por meio de palavras, é bastante complexa.
Creio que ninguém lamentaria em ter ao seu lado – ou mesmo à sua frente – um grande líder. Uma pessoa capaz de congregar a diversidade – de gênero, idade, etnia, concepções, formação e experiência – em prol de atividades profissionais, nas quais cada um possa oferecer o seu melhor ao projeto coletivo. No entanto, a indagação que permanece é: Que atributos reúne esse grande líder? Qual a essência dessa função complexa e multifacetada? As teorias construídas em torno do tema já deram conta de que a liderança não é inata, logo, pode ser aprendida.
Partindo dessa afirmação, a professora Sylvia Vergara*, uma estudiosa do assunto, desenvolveu algumas sínteses pertinentes, segundo as quais o líder se constrói na aprendizagem contínua sobre si mesmo, sobre seus liderados e sobre o contexto em que atua. Pensemos um pouco sobre cada uma dessas aprendizagens.
A autoaprendizagem remete à clareza de que o conhecimento que se tem das coisas é, como o de qualquer ser humano, incompleto e que a consciência dessa incompletude, longe de ser um desastre, é o que oxigena o sentido da vida, permitindo que, a cada dia, se aprenda mais e melhor. Esse contexto de incerteza também se aplica à tomada de decisões que alterna vias de objetividade e subjetividade, contrapontos próprios da constituição da individualidade humana.
O exercício do papel da liderança oferece a oportunidade de aprender sobre o outro, considerando suas motivações, valores, expectativas e histórias de vida para, então, poder ajudá-lo a superar-se constantemente. É nesse movimento que se constrói o sentimento de pertencimento e interdependência necessário ao trabalho de uma equipe. O diálogo franco e robusto consigo mesmo e com os outros é que nos permite polir as competências perenes: capacidade de pensar, aprender, ensinar e resolver problemas.
Todo o trabalho humano cerca-se de um contexto, de um ambiente no qual as relações se estabelecem. Não há como compreender essas relações sem aprender sobre esse contexto, caracterizado por adaptabilidade e inovações, continuidade e ruptura, certezas e riscos. Como se trata de um espaço, por natureza intersubjetivo, é preciso estar atento para que a criatividade, a cooperação e a autonomia tenham lugar assegurado e, sobretudo, para que as sementes de ideias inovadoras cresçam protegidas de “censuras” impostas por referenciais superados. O ambiente precisa favorecer a lucidez para que todos consigam distinguir entre o que é prioritário e o que é periférico, a fim de estarem encorajados para agir em sintonia com o projeto coletivo, diante de situações inéditas.
É ingênuo pensar, diante do exposto, que exista alguma barreira capaz de impedir o desenvolvimento de uma equipe. O complexo nessa dinâmica é trazer esse movimento evolutivo à luz da consciência. O encontro com o outro impulsiona a permanente transformação, a permanente transição e remete-nos ao eterno “vir a ser”. Nessa dinâmica, em última instância, o que cabe ao grande líder é a arte de fortalecer o essencial: uma cultura de ética, integridade e confiança.