A arte de esperar em movimento
Nossas crianças e jovens têm se mostrado cada dia menos tolerantes ao que eu chamo de encanto da espera, revelado aos que respeitam o percurso natural das coisas da vida. Percebido, por exemplo, por meio da beleza e do sabor de uma fruta amadurecida no pé, sem a interferência da mão humana, que não seja para protegê-la de eventuais tempestades. A natureza a expõe às intempéries, não há como evitar. Há somente como proteger, eventualmente, estando por perto – afinal, nesses momentos a planta desenvolve certa resistência e põe à prova se, de fato, plantio e cultivo foram feitos nas melhores condições. E, como presente, a colheita em tempo certo permite usufruir do perfume, do sabor, entre outros encantos da espera.
Respeitar o tempo das coisas implica o equilíbrio entre a proatividade ansiosa que elimina os encantos da espera e o simples “esperar sentado”. Chamo atenção para esse movimento na escola e na família. Há escolas que afirmam acelerar processos “porque a família exige”. Há algo tão distorcido nesse processo que há empresários impressionados com a quantidade de jovens que ingressam no mundo do trabalho certos de que vão se sentar, no primeiro dia, na cadeira de diretor-geral. Por quê? Porque desde a Educação Infantil há meninos e meninas que não estão sendo educados para o respeito ao tempo de espera, para a disciplina que exige resiliência, alteridade e acolhimento.
É difícil assistir de braços cruzados a essa pressa desnecessária do ensino básico, no que tange aos aspectos cognitivos, negligenciado aspectos que são de responsabilidade da escola, por necessitar de um trabalho pedagógico, portanto intencional, entre pares, a fim de que a resiliência, a alteridade e o acolhimento encontrem espaço fecundo no processo de formação humana. Talvez seja por esse motivo que os gráficos apontam nas pesquisas, de forma contundente, que os profissionais recém-egressos das escolas são admitidos pela sua inquestionável qualidade técnica e demitidos, em sua grande maioria, por sua extrema incapacidade de restabelecer relações sociais.
Aprendemos com os nossos pares a disciplina social da qual tanto necessitamos para conhecer nossos limites e respeitar os limites dos outros. Entender os tempos de cada um para não os atropelar nem os desperdiçar é uma arte – e a escola é o espaço profissional da harmonização dos tempos. Talvez seja por isso que recebamos o título de professor: aquele que tem por profissão professar que já é tempo de… e, ainda, pelas relações, permitir viver a alteridade, vendo o outro como outro, e não como aquele que queríamos que fosse (no seu tempo). Esse exercício permite, por sua vez, o acolhimento do outro, afugentando a tolerância. E, por último, ao acolher o outro como outro, eu me construo mais flexível, porém com princípios bem fundamentados e, a isso, damos o nome de resiliência, termo emprestado da física.
Mas o mais mágico reservado à profissão de quem professa é o de encantador da espera, realizado por meio da dádiva de se estar sempre saindo. Afinal, quando chegarmos lá, é porque já acabou o nosso tempo!