Como bem sabemos, todo ato pedagógico é um ato de comunicação. Porém, nem toda comunicação é um ato pedagógico. Essa distinção é profundamente pertinente quando pretendemos relacionar o trabalho de sala de aula e a comunicação, principalmente quando o foco das nossas atenções é a condição refratária de muitos alunos em relação aos propósitos do trabalho pedagógico. Uma pesquisa de Richard Whiteley*, no Fórum Mundial de Alta Performance, mostra que o que se diz (conteúdo) representa 7% da comunicação, como se diz (forma) representa 38% da comunicação e o mais surpreendente é que 55% da comunicação se refere a campos energéticos e ocultos, presentes nas relações humanas, não identificáveis a olho nu. Ou seja, a comunicação vai muito além do que as palavras dizem…
Fica, então, mais uma vez constatada que a “Pedagogia da Saliva” precisa ser reavaliada, pois o que se fala não é somente o que foi dito. Sendo assim, o trabalho de sala de aula não pode ser reduzido a exposições orais. Afinal, para que constituamos um ato pedagógico, três dimensões precisam ser entretecidas, como fios de um mesmo bordado. A dimensão intelectual, que comporta o instrumental, o técnico e o científico; a dimensão estética expressiva, que integra a apresentação corpórea e sua respectiva consciência; e a dimensão ética moral, que articula o conjunto de regras, princípios e valores capazes de sustentar a responsabilidade política e pública inerente ao ofício docente.
Quando expandimos nosso entendimento sobre a comunicação e a assumimos como parte integrante do ato pedagógico, tomamos consciência de que as relações constituídas em seu interior são necessariamente medializadas pelo saber e reguladas pelo poder que emana desse saber. Como alunos e professores possuem saberes, logo possuem poderes recíprocos. E, ainda, por sermos sujeitos socioculturais – de experiência e linguagem –, precisamos de espaço de comunicação para nos constituir humanos. Quando esses espaços não são assegurados para todos, dentro das redes oficiais de comunicação em sala de aula, os excluídos acabam fundando as redes clandestinas de comunicação, fora da atividade educativa proposta, identificada como a voz da indisciplina.
Nosso movimento, como educadores, é o de incluir, resgatando a origem etimológica da palavra “escola”: lugar de conversa agradável, onde deve ser desenvolvido um trabalho intencional e árduo com vistas à promoção humana. Portanto, ao gerenciar as relações pedagógicas, cada educador articula muitos elementos capazes de comunicar mais do que o próprio código oralizado, desencadeados a partir de representações e expectativas pessoais de todos os sujeitos integrantes e integradores do ato pedagógico, muitas vezes imperceptíveis aos olhos. Nossa atividade profissional, tanto quanto preparo e experiência refletida, exige muita sensibilidade.