A convivência em sala de aula, atualmente, tem sido um conteúdo bastante discutido entre os professores, especialmente por entenderem a importância do trabalho coletivo no processo de construção de conhecimentos. Contribuir para o aperfeiçoamento da convivência é, em última instância, provavelmente um dos desafios mais importantes para a humanidade nos dias atuais. Até porque, para que possamos avançar rumo a um desenvolvimento social, baseado na justiça e no respeito mútuo, precisaremos superar as dificuldades, a fim de nos entendermos com os outros, e, assim, resolvermos os conflitos de convivência.
Sabemos da íntima relação entre disciplina e convivência, bem como da importância de ambas na constituição de uma atmosfera favorável para o sucesso do trabalho educativo em sala de aula. A questão que se põe é: Em que medida a atuação do professor pode interferir na constituição dessa atmosfera? Quando começamos a refletir sobre o contexto da sala de aula, nós nos deparamos com um conjunto de pessoas diferentes entre si e, sobretudo, pessoas que aprendem em momentos diferentes e por caminhos diferentes.
Quando aceitamos essa realidade, somos, inevitavelmente, conduzidos a rever nossas formas de trabalho. Reduzir a estratégia docente à aula expositiva, em que se impõe exclusivamente a lógica do professor e se exige a adaptação do aluno como resposta, além de ser um procedimento equivocado, desconsidera a riqueza da natureza humana que se encontra no fato de sermos únicos, diferentes uns dos outros. Quando respeitamos os diferentes tempos de aprendizagem, oportunizando diversos caminhos para a sua efetivação, colaboramos para o surgimento do respeito mútuo, que para Piaget* é onde se funda a autoridade docente.
A função diretiva e intencional do trabalho docente requer autoridade. Ter autoridade não significa poder impor o seu próprio critério sem discussão. Ter autoridade é ter ascendência, ter capacidade afetiva e moral para ser escutado e mediar conflitos, entendendo-os como um fenômeno natural e inevitável, consubstancial à natureza humana e também portador de valores positivos necessários, tanto para o crescimento pessoal quanto para a construção social. Não há como fazer democracia apenas “de ouvir falar”; é preciso exercitá-la. Por isso, a compreensão e a aprendizagem das normas construídas requerem tentativas, tensões e mudanças, compatíveis e coerentes com os princípios e práticas democráticos.
Quando assumimos a complexidade da ação educativa com conhecimento e reflexão e, ainda, com uma boa dose de bom senso, aceitamos como valores: relações democráticas, diálogo, respeito mútuo, respeito às diferenças, aos saberes dos alunos, alternância nas formas de trabalho, visão dos alunos como sujeitos no processo de aprendizagem, autonomia intelectual e moral como meta educativa, sala de aula como espaço de criticidade, criatividade e liberdade. Para tanto, a postura docente tem relação direta na constituição de uma atmosfera educativa que favoreça um clima de trabalho agradável, não ameaçador, organizado a partir de normas claras, bem definidas, construídas coletivamente. Nesse contexto, afetividade e competência, não necessariamente nessa ordem, assim como liderança e autoridade, são dimensões indispensáveis na condução do processo educativo.