Para aprender e ensinar nos dias de hoje, necessita-se de seres pensantes, responsáveis por seus discursos e, sobretudo, capazes de “assinar suas obras”: assumir a autoria de sua trajetória.
Nesse sentido, o trabalho escolar precisa permitir a dúvida, a emissão de opiniões, a construção de argumentações, a articulação dos diferentes pontos de vista e toda a efervescência natural e salutar que as relações humanas suscitam.
Encontra-se exatamente nessa nova configuração o desafio de fazer escola. Não há mais espaço nas discussões pedagógicas atuais para procurar os culpados pelos fracassos cristalizados da educação escolar, ora recaindo o ônus sobre os alunos, ora sobre os professores, numa incansável e improdutiva “caça às bruxas”.
Na medicina, existe uma doença que ilustra bem essa situação, chamada corpulmonale – uma disfunção entre o pulmão e o coração, órgãos vitais, ocasionando o comprometimento do organismo como um todo.
Talvez a comparação seja exagerada. Não há dúvida de que o descompasso entre professores e alunos, quanto aos propósitos da relação que os une e os torna complementares, é danoso para o encaminhamento do processo educativo.
Cada um se produz em autoria e, por isso, ser ouvido e ter espaço para se manifestar é condição básica para aprender a ouvir e respeitar o espaço do outro.
Nesse sentido, como defende Maria Teresa Estrela*, todo ato pedagógico é um ato de comunicação, logo o espaço escolar é permeado por um sistema de comunicação com diversos canais, pois, afinal, o corpo comunica; às vezes, os gestos, os olhares, a intensidade vocal dizem muito mais do que o próprio código oralizado. E, ainda mais, muitos elementos que integram a comunicação são inconscientes e desencadeados a partir das representações e expectativas de cada um dos envolvidos na relação.
Por tudo isso, o que se apresenta como fundamental na relação entre professores e alunos é a qualidade do diálogo. Há professores que confundem diálogo com aula expositiva/interrogativa, em que, ao contrário da vida comum, quem detém a informação é quem faz as perguntas.
Nesse caso, o que existe é um falso espaço de participação na rede oficial de comunicação para poucos alunos, e os que se sentem excluídos fundam as redes clandestinas de comunicação, compreendidas como a voz da indisciplina.
É nesse momento que se percebe a complexidade do trabalho educativo. Lembrando que complexidade não é complicação, segundo Perrenoud**. O complicado pode ser reduzido a um princípio simples (ex.: nó de marinheiro).
A complexidade está na associação do que é antagônico. Em sala de aula, trabalhamos com uma linha tênue entre diversas contradições: unidade e diversidade, dependência e autonomia, invariância e mudança, harmonia e conflito, igualdade e diferença.
Nesse contexto, cada problema, cada conflito, cada crise é uma oportunidade para aprender a trabalhar de forma conjunta, cada qual desempenhando o papel que lhe cabe no processo educativo escolar. Dessa forma, professores e alunos assumem a responsabilidade de sua autoria, acatando a complementaridade funcional dessa relação: um não faz sentido sem o outro.