Pesquisa

07/07/20 Livros

Todo professor é um líder, mas nem todo líder é um professor!

O dramaturgo inglês William Shakespeare* não economizou recursos na hora de delinear o perfil de “seus” líderes. Observador por natureza, via que o líder se construía liderando… Essa ideia não vale apenas para aquele momento histórico, mas se apresenta bem atual, sobretudo quando analisamos o ambiente de sala de aula. Muito antes de nos mobilizarmos por meio de ideias e propostas de trabalho, nós nos envolvemos com as pessoas que as defendem e são essas pessoas que nos colocam em movimento. Isso vale para qualquer relacionamento humano!

A sala de aula é um espaço que se fecunda nas relações; portanto, tem em sua “engrenagem” de impulso e de vitalização pessoas apaixonadas por ideias e projetos que são capazes de congregar outras pessoas em prol da realização de uma proposta de trabalho. Isso é liderança, atributo indispensável no ofício docente.

O que faz uma criança ou um jovem se deixar liderar? A história dos grandes líderes nos faz crer que o processo de mobilização passa, primeiramente, pela empatia e engajamento desse líder com os ideais propostos: convicção e coerência. Muitas vezes o professor traz uma proposta de trabalho diametralmente oposta àquela que os alunos gostariam de fazer naquele momento… As pesquisas mostram que os alunos, paradoxalmente, não gostam de professores que fazem o que eles querem. Os alunos são capazes de perceber a intencionalidade do trabalho docente, desde a mais tenra idade, desde que se sintam envolvidos para tal. Eles podem até não concordar com aquilo que é proposto pelo professor, mas jamais podem duvidar das suas intenções.

Um outro fator a ser considerado na constituição da liderança docente é o de ser uma pessoa otimista a priori. Isso não significa ignorar os problemas, mas observá-los como desafios inerentes à função, sem os quais não teríamos oportunidades de crescimento profissional e pessoal. Afinal, nós, professores, trabalhamos para a promoção humana, logo acreditamos na possibilidade dessa promoção e, portanto, somos antes de tudo promotores de esperança.

Não podemos desconsiderar que não há como fazer educação sem coragem: para isso, é preciso agir com o coração. O que mobiliza a cabeça para o movimento antes aquece o coração! O ser humano não é capaz de se desenvolver na indiferença; aprendemos por amor ou por ódio e ambos passam pelo coração. Não nascemos corajosos. A coragem pertence aos que sabem cultivá-la, não a entendendo como ausência de medo, mas como a capacidade de controle e superação dos nossos medos. Muito do ofício docente está em lidar com os nossos medos e os medos dos outros, encorajando-os a superá-los…

Para construir uma liderança docente, é preciso preparar-se! Sem dúvida, a formação inicial do professor é muito importante e indispensável. Porém, não há outra forma de ser professor que não seja pela docência. Estando à frente dos alunos de forma intencional, deparando-se com a realidade de sala de aula, reconstruindo tudo o que aprendemos “de ouvir falar”, registrando experiências e interpretando-as à luz da ciência, construindo relações e vínculos e compartilhando angústias com aqueles que partilham do mesmo ofício. Com isso, passo a passo, ajudamos a construir em nós mesmos e nos outros o sentimento de merecimento,cada vez mais escasso na atualidade. Sentimento este que nos permite olhar no espelho e dizer: “fiz por merecer”, sou responsável pelas pessoas, liderei em favor do trabalho educativo em sala de aula. Até porque, segundo Aristóteles**, “a grandeza não consiste em receber honras, mas em merecê-las”.

* William Shakespeare, um dos mais influentes dramaturgos do mundo, nasceu em 1564, na Inglaterra, e deixou uma obra de 38 peças de teatro, 154 sonetos e dois longos poemas narrativos. Entre suas criações mais famosas, estão as tragédias Romeu e Julieta, Hamlet, Rei Lear e Macbeth.
** Importante filósofo grego (384-322 a.C.), discípulo de Platão e professor de Alexandre, o Grande. Aristóteles é um dos pensadores mais influentes na cultura ocidental e foi fundador da escola peripatética e do Liceu, além de ser autor de um sistema filosófico que abordou um vasto campo de assuntos, como geometria, física, metafísica, astronomia, medicina, psicologia, ética, drama, matemática e, principalmente, lógica.

   Compartilhar no Facebook   Compartilhar por WhatsApp

07/07/20

AvaliAÇÃO: ajuste constante da intervenção docente

07/07/20

Família: berço da formação de regras, princípios e valores