Todo professor é um líder, mas nem todo líder é um professor!
O dramaturgo inglês William Shakespeare* não economizou recursos na hora de delinear o perfil de “seus” líderes. Observador por natureza, via que o líder se construía liderando… Essa ideia não vale apenas para aquele momento histórico, mas se apresenta bem atual, sobretudo quando analisamos o ambiente de sala de aula. Muito antes de nos mobilizarmos por meio de ideias e propostas de trabalho, nós nos envolvemos com as pessoas que as defendem e são essas pessoas que nos colocam em movimento. Isso vale para qualquer relacionamento humano!
A sala de aula é um espaço que se fecunda nas relações; portanto, tem em sua “engrenagem” de impulso e de vitalização pessoas apaixonadas por ideias e projetos que são capazes de congregar outras pessoas em prol da realização de uma proposta de trabalho. Isso é liderança, atributo indispensável no ofício docente.
O que faz uma criança ou um jovem se deixar liderar? A história dos grandes líderes nos faz crer que o processo de mobilização passa, primeiramente, pela empatia e engajamento desse líder com os ideais propostos: convicção e coerência. Muitas vezes o professor traz uma proposta de trabalho diametralmente oposta àquela que os alunos gostariam de fazer naquele momento… As pesquisas mostram que os alunos, paradoxalmente, não gostam de professores que fazem o que eles querem. Os alunos são capazes de perceber a intencionalidade do trabalho docente, desde a mais tenra idade, desde que se sintam envolvidos para tal. Eles podem até não concordar com aquilo que é proposto pelo professor, mas jamais podem duvidar das suas intenções.
Um outro fator a ser considerado na constituição da liderança docente é o de ser uma pessoa otimista a priori. Isso não significa ignorar os problemas, mas observá-los como desafios inerentes à função, sem os quais não teríamos oportunidades de crescimento profissional e pessoal. Afinal, nós, professores, trabalhamos para a promoção humana, logo acreditamos na possibilidade dessa promoção e, portanto, somos antes de tudo promotores de esperança.
Não podemos desconsiderar que não há como fazer educação sem coragem: para isso, é preciso agir com o coração. O que mobiliza a cabeça para o movimento antes aquece o coração! O ser humano não é capaz de se desenvolver na indiferença; aprendemos por amor ou por ódio e ambos passam pelo coração. Não nascemos corajosos. A coragem pertence aos que sabem cultivá-la, não a entendendo como ausência de medo, mas como a capacidade de controle e superação dos nossos medos. Muito do ofício docente está em lidar com os nossos medos e os medos dos outros, encorajando-os a superá-los…
Para construir uma liderança docente, é preciso preparar-se! Sem dúvida, a formação inicial do professor é muito importante e indispensável. Porém, não há outra forma de ser professor que não seja pela docência. Estando à frente dos alunos de forma intencional, deparando-se com a realidade de sala de aula, reconstruindo tudo o que aprendemos “de ouvir falar”, registrando experiências e interpretando-as à luz da ciência, construindo relações e vínculos e compartilhando angústias com aqueles que partilham do mesmo ofício. Com isso, passo a passo, ajudamos a construir em nós mesmos e nos outros o sentimento de merecimento,cada vez mais escasso na atualidade. Sentimento este que nos permite olhar no espelho e dizer: “fiz por merecer”, sou responsável pelas pessoas, liderei em favor do trabalho educativo em sala de aula. Até porque, segundo Aristóteles**, “a grandeza não consiste em receber honras, mas em merecê-las”.