Qual é o valor do ensino quando não há aprendizagem?
Quando nos reportamos à educação escolar, não temos dúvidas de que o ensino está para a aprendizagem assim como o oxigênio para a vida humana. Todo o movimento docente é diretivo e intencional por natureza e tem sua razão focada na aprendizagem. A grande dúvida, porém, é: ensinamos ou educamos em sala de aula?
Educar significa “colocar para fora” o potencial humano e oferecer um ambiente propício ao desenvolvimento dessas potencialidades. Ao contrário, ensinar é in + signo, ou seja, colocar “signos para dentro”. Na escola, articulamos os dois movimentos – de dentro para fora e de fora para dentro – como fundamento que nos permite perceber que, na verdade, como defende José Outeiral*, “a sala de aula não é apenas um espaço físico com quadro, cadeiras e mesas, mas um espaço imaginário onde acontece um interjogo de forças inconscientes, que se cruzam, se opõem, entram em conflito ou se reforçam”.
Com isso, assumimos “a parte que nos cabe nesse latifúndio”, conscientemente, entendendo que o trabalho em sala de aula pressupõe primeiro a construção de um relacionamento vincular; segundo, a validação das funções docente e discente (diferenças e semelhanças); e, em terceiro, um equilíbrio entre frustrações e conquistas. Independentemente do que se pretende ensinar, a articulação desses três elementos sustenta o caminho para a consolidação da aprendizagem – razão da existência do ensino.
Nós nascemos aprendizes. Na verdade, essa é indiscutivelmente nossa característica humana mais distintiva – somos feitos com o propósito de aprender. O grande questionamento é: por que muitas pessoas declinam de um convite para aprender? Se somos aprendizes por natureza, o que nos faz abrir mão de aprender em um local “especializado em aprendizagem”, como a escola? Recentemente, alunos do Ensino Médio foram convidados a resolver um problema de matemática em que era necessário determinar quantos ônibus tínhamos que contratar para transportar 1.128 pessoas, sendo que a capacidade máxima de cada ônibus é de 36 lugares. 70% dos alunos dividiram 1.128 por 36 e chegaram ao resultado de 31, com uma sobra de 12. Menos de 1/3 concluiu que necessitaria contratar 32 ônibus. Esse é apenas um exemplo que nos dá pistas de um descompasso entre a vida escolar e a vida real.
Cada vez mais estamos diante da era das incertezas. Julgo que poucas pessoas atrever-se-iam a elencar o conjunto de saberes necessários para atuar, de forma cidadã, daqui a cinco anos. Por tudo isso, não há outra forma de contribuir com os nossos alunos que não seja desenvolvendo o seu gosto por aprender, sempre mais e melhor, tornando-se, paulatinamente, responsável por sua aprendizagem, que tem por base a resiliência, a persistência e a reflexão. Para tanto, é fundamental que os estudantes encontrem em sala de aula espaços para fazer perguntas, para reconhecer e dizer quando não entendem e, sobretudo, para pensar sobre a sua aprendizagem.
Ainda percebemos, no interior das escolas, discussões acaloradas sobre o estofamento das cadeiras do Titanic**, enquanto acontece o naufrágio. Nosso objetivo deve estar focado na criação de condições para que professores e alunos se tornem melhores aprendizes: condição sine qua non para prosperar na era da incerteza.